Em 28 de junho, as marcas enfeitam seus logos com as cores do arco-íris.
As vitrines mudam. Os perfis corporativos postam frases bonitas.
E por um dia, parece que o Brasil é o país do respeito à diversidade.
Mas basta o relógio virar para o dia 29, e o que sobra é o silêncio.
O abandono. A indiferença. A violência.
Neste mês de junho — marcado pelo Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+, vale perguntar com sinceridade:
orgulho pra quem?
Será que essa data é realmente um motivo de celebração para todos?
Ou será que ela funciona mais como um disfarce — uma maquiagem social que tenta esconder a realidade cruel que ainda é imposta à comunidade LGBTQIAPN+ no Brasil?
Para muitas pessoas LGBTQIAPN+, o orgulho não é um gesto automático.
É um ato de resistência diária.
É levantar da cama mesmo quando o corpo ainda carrega o peso do medo.
É ocupar espaços que insistem em dizer que você não deveria estar ali.
É continuar vivendo, mesmo quando o mundo insiste em te apagar.
Nesse sentido, o orgulho é sim um direito e uma conquista.
Mas ele também é uma resposta à violência. Uma forma de dizer:
“Eu me amo, apesar de tudo que tentam fazer contra mim.”
Essa é a pergunta que precisa ecoar nesse mês:
as pessoas que não fazem parte da comunidade LGBTQIAPN+, sentem orgulho de quem está ao seu lado?
Ou será que preferem dizer:
“Tudo bem ser, mas não precisa mostrar.”
“Eu aceito, desde que seja discreto.”
“Não tenho preconceito, mas…”
O orgulho, quando é verdadeiro, não é tolerância.
É reconhecimento. É dizer com o peito aberto:
“Eu te admiro. Eu te quero vivo(a). Eu te quero feliz.”
Infelizmente, o Brasil ainda é o país que mais mata pessoas LGBTQIAPN+ no mundo, de acordo com dados de 2023 do Observatório de Mortes Violentas de LGBTI+.
Foram 230 assassinatos em 2023, sendo a maioria contra pessoas trans e travestis.
E esses são só os casos que ganham visibilidade.
Nas ruas, nos postos de saúde, nas escolas, nas entrevistas de emprego, o que se repete é um ciclo de exclusão, precariedade e negação de direitos básicos.
Empresas, influenciadores e marcas se aproveitam do mês do orgulho para parecerem inclusivos.
Mas quantas dessas marcas empregam pessoas trans?
Quantas têm protocolos internos contra LGBTfobia?
Quantas mantêm esse “compromisso” depois que o mês de junho acaba?
A pauta LGBTQIAPN+ não pode ser uma tendência. Ela é uma urgência.
E o orgulho não pode ser um filtro colorido aplicado uma vez por ano.
Este texto não é contra a comemoração do Dia do Orgulho.
Pelo contrário: ele é um lembrete de por que ela é tão importante.
Mas ele também é um chamado à coerência.
Se você diz apoiar pessoas LGBTQIAPN+, apóie o ano inteiro.
Não aceite piadas homofóbicas em grupos de família.
Não vote em políticos que negam direitos.
Não silencie diante da violência.
E, acima de tudo, não negue afeto.
Dói saber que para muitos LGBTQIAPN+, o lugar mais inseguro ainda é a própria família.
É ali que primeiro se aprende a ter vergonha.
A esconder. A diminuir. A mentir.
Por isso, nesse mês, a pergunta que realmente importa é:
você se orgulha da existência da pessoa LGBTQIAPN+ que está na sua vida?
Você diz isso a ela? Você demonstra isso?
Porque não é a propaganda na televisão que salva uma vida.
É o acolhimento real. É a escuta.
É o “eu te amo exatamente como você é” dito todos os dias.
Enquanto houver medo, exclusão e dor, o orgulho vai continuar sendo necessário.
Mas que ele não seja só de quem resiste.
Que seja também de quem ama, de quem apoia e de quem se importa.
Porque a verdadeira revolução não é só se aceitar.
É ensinar o mundo a amar com a mesma coragem.
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