23°C 24°C
Salvador, BA

28 de junho: Orgulho pra quem? Uma data de visibilidade não apaga 364 dias de negação

O Dia do Orgulho LGBTQIAPN+ é orgulho pra quem? Uma reflexão sobre visibilidade, violência, afeto e o que falta para o respeito durar o ano inteiro.

28/06/2025 às 12h00 Atualizada em 28/06/2025 às 14h07
Por: Joelson Gama | DRT.: 0006017/BA
Compartilhe:
Arte PBANPRESS
Arte PBANPRESS

Em 28 de junho, as marcas enfeitam seus logos com as cores do arco-íris.
As vitrines mudam. Os perfis corporativos postam frases bonitas.
E por um dia, parece que o Brasil é o país do respeito à diversidade.

Mas basta o relógio virar para o dia 29, e o que sobra é o silêncio.
O abandono. A indiferença. A violência.

Neste mês de junho — marcado pelo Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+, vale perguntar com sinceridade:
orgulho pra quem?

Será que essa data é realmente um motivo de celebração para todos?
Ou será que ela funciona mais como um disfarce — uma maquiagem social que tenta esconder a realidade cruel que ainda é imposta à comunidade LGBTQIAPN+ no Brasil?

Para muitas pessoas LGBTQIAPN+, o orgulho não é um gesto automático.
É um ato de resistência diária.
É levantar da cama mesmo quando o corpo ainda carrega o peso do medo.
É ocupar espaços que insistem em dizer que você não deveria estar ali.
É continuar vivendo, mesmo quando o mundo insiste em te apagar.

Nesse sentido, o orgulho é sim um direito e uma conquista.
Mas ele também é uma resposta à violência. Uma forma de dizer:
“Eu me amo, apesar de tudo que tentam fazer contra mim.”

Mas e os outros? Orgulho do quê?

Essa é a pergunta que precisa ecoar nesse mês:
as pessoas que não fazem parte da comunidade LGBTQIAPN+, sentem orgulho de quem está ao seu lado?

  • Do irmão gay?
  • Da filha lésbica?
  • Do tio que é um homem trans?
  • Da amiga travesti que quase não tem onde morar?

Ou será que preferem dizer:
“Tudo bem ser, mas não precisa mostrar.”
“Eu aceito, desde que seja discreto.”
“Não tenho preconceito, mas…”

O orgulho, quando é verdadeiro, não é tolerância.
É reconhecimento. É dizer com o peito aberto:
“Eu te admiro. Eu te quero vivo(a). Eu te quero feliz.”

 

O país que mais mata — e o que mais se cala

Infelizmente, o Brasil ainda é o país que mais mata pessoas LGBTQIAPN+ no mundo, de acordo com dados de 2023 do Observatório de Mortes Violentas de LGBTI+.
Foram 230 assassinatos em 2023, sendo a maioria contra pessoas trans e travestis.

E esses são só os casos que ganham visibilidade.
Nas ruas, nos postos de saúde, nas escolas, nas entrevistas de emprego, o que se repete é um ciclo de exclusão, precariedade e negação de direitos básicos.

  • Pessoas LGBTQIAPN+ ainda têm menos oportunidades de emprego formal.
  • São constantemente expulsas de casa por suas famílias.
  • Precisam recorrer à prostituição por falta de políticas públicas.
  • Enfrentam rejeição até no sistema de saúde, ao buscarem atendimento digno.

 

O marketing arco-íris e a hipocrisia de sempre

Empresas, influenciadores e marcas se aproveitam do mês do orgulho para parecerem inclusivos.
Mas quantas dessas marcas empregam pessoas trans?
Quantas têm protocolos internos contra LGBTfobia?
Quantas mantêm esse “compromisso” depois que o mês de junho acaba?

A pauta LGBTQIAPN+ não pode ser uma tendência. Ela é uma urgência.
E o orgulho não pode ser um filtro colorido aplicado uma vez por ano.

 

Orgulho de quê?

Este texto não é contra a comemoração do Dia do Orgulho.
Pelo contrário: ele é um lembrete de por que ela é tão importante.

Mas ele também é um chamado à coerência.

Se você diz apoiar pessoas LGBTQIAPN+, apóie o ano inteiro.
Não aceite piadas homofóbicas em grupos de família.
Não vote em políticos que negam direitos.
Não silencie diante da violência.

E, acima de tudo, não negue afeto.

O orgulho começa em casa

Dói saber que para muitos LGBTQIAPN+, o lugar mais inseguro ainda é a própria família.
É ali que primeiro se aprende a ter vergonha.
A esconder. A diminuir. A mentir.

Por isso, nesse mês, a pergunta que realmente importa é:
você se orgulha da existência da pessoa LGBTQIAPN+ que está na sua vida?
Você diz isso a ela? Você demonstra isso?

Porque não é a propaganda na televisão que salva uma vida.
É o acolhimento real. É a escuta.
É o “eu te amo exatamente como você é” dito todos os dias.

Que o orgulho não caiba só em junho

Enquanto houver medo, exclusão e dor, o orgulho vai continuar sendo necessário.
Mas que ele não seja só de quem resiste.
Que seja também de quem ama, de quem apoia e de quem se importa.

Porque a verdadeira revolução não é só se aceitar.
É ensinar o mundo a amar com a mesma coragem.

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
500 caracteres restantes.
Comentar
Mostrar mais comentários
Joelson Gama
Sobre o blog/coluna
Jornalista Profissional desde 2019, persigo a comunicação e o jornalismo desde 2010, com a inauguração do Terra Nova Online (que virou Terra Nova News). Antes disso, ainda no Ensino Médio, idealizou e dirigiu o impresso Gazeta Estudantil. Sempre de olho no que acontece, principalmente, em Terra Nova e cidades do entorno. Tem passagens pelas equipes de jornalismo de rádios baianas como: Sociedade da Bahia, ATarde FM, Piatã FM e Terra Nova FM, entre outras passagens por veículos impressos e digitais, além de assessorias de imprensa e serviço público municipal, estadual e privado.
Ver notícias
Salvador, BA
21°
Tempo nublado

Mín. 23° Máx. 24°

21° Sensação
10.23km/h Vento
78% Umidade
100% (12.96mm) Chance de chuva
05h57 Nascer do sol
05h22 Pôr do sol
Seg 24° 23°
Ter 25° 23°
Qua 25° 23°
Qui 25° 23°
Sex 25° 24°
Atualizado às 10h06
Economia
Dólar
R$ 5,56 +0,00%
Euro
R$ 6,50 +0,00%
Peso Argentino
R$ 0,00 +2,44%
Bitcoin
R$ 699,916,90 +0,67%
Ibovespa
136,187,31 pts -0.41%