24°C 25°C
Salvador, BA
Publicidade
Anúncio

Lei Áurea não foi um ato de bondade. 13 de Maio foi pressão popular.

137 anos depois da assinatura da Lei Áurea, ainda é preciso dizer: a abolição não foi um gesto de bondade da monarquia, mas o resultado da luta de um povo silenciado pela história. Este texto é um convite à verdade, à memória e à reparação.

13/05/2025 às 09h33
Por: Joelson Gama | DRT.: 0006017/BA
Compartilhe:
PBAN PRESS
PBAN PRESS

Quando falamos de 13 de maio, muita gente ainda repete a história como aprendeu nos livros antigos: a Princesa Isabel, num gesto nobre e comovente, teria “libertado” os escravizados do Brasil com a assinatura da Lei Áurea.

Mas a verdade, nua e não tão doce, é outra: a assinatura foi o último capítulo de uma luta iniciada muito antes — e que não terminou com aquele ato.

A abolição da escravidão nunca foi um presente. Foi o resultado da pressão popular, do sangue derramado, da resistência quilombola, da coragem dos abolicionistas negros, do trabalho incansável de muitos que o tempo tenta apagar.

Em 13 de maio de 1888, a Princesa Regente assinou a Lei nº 3.353, conhecida como Lei Áurea, decretando o “fim da escravidão no Brasil”. Ela tinha apenas dois artigos e nenhum plano de inserção social, indenização ou reparação para os libertos.

Nenhum pedaço de terra. Nenhum emprego garantido. Nenhum projeto de acolhimento.

Apenas a formalização da liberdade que já estava sendo arrancada à força por quem não suportava mais viver acorrentado.

Segundo historiadores e especialistas, nas semanas que antecederam a assinatura, o país já vivia um clima de insurreição negra: fugas em massa, sabotagens, revoltas de trabalhadores, alforrias forçadas. A estrutura da escravidão estava ruindo, não por benevolência da monarquia, mas por pressão inegável da base social.

Foi a mobilização popular — de negros livres, jornalistas, advogados, estudantes, artistas e até senhores de escravizados arrependidos — que tornou insustentável a continuidade do regime escravocrata.

O Brasil se agarrou à imagem de Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bourbon e Bragança com a pena na mão como se fosse redenção.

Mas onde estão os nomes de Luís Gama, André Rebouças, José do Patrocínio, Tia Ciata, Maria Firmina dos Reis?
Onde está a história das mulheres negras que alimentaram revoltas nos terreiros, das lideranças quilombolas que enfrentaram tropas, dos ex-escravizados que libertavam outros irmãos com as próprias mãos?

Essa história não está nos monumentos. Não está nas datas cívicas. Mas vive em quem resiste.

A abolição, do jeito que nos ensinaram, foi um pacto simbólico que “resolveu” a escravidão sem tocar no racismo.

Libertou corpos, mas não devolveu dignidade.

E 137 anos depois, ainda estamos esperando por ela.

Historicamente, o Brasil foi o último país das Américas a abolir a escravidão. E talvez tenha sido o que menos se preparou para isso. A Lei Áurea, tão exaltada em desfiles escolares e livros didáticos, não previa nenhum tipo de reparo, inclusão ou cuidado com quem ficou livre apenas no papel.

Enquanto os senhores de escravizados exigiam indenizações, os libertos vagavam pelas cidades, dormindo nas ruas, formando favelas, sendo criminalizados por existirem.

O Estado, que sustentou o regime escravista por mais de 300 anos, lavou as mãos no dia seguinte à abolição.

E essa negligência não ficou no século XIX. Ela se perpetua até hoje em cada estatística:

  • na taxa de homicídios de jovens negros,

  • no desemprego estrutural,

  • no sistema carcerário seletivo,

  • no racismo diário disfarçado de opinião.

Celebrar a data é importante.
Mas celebrar com consciência.
Sem repetir mitos. Sem esquecer nomes.
Sem silenciar a dor que ainda ecoa.

É nosso dever lembrar que a história da abolição não cabe em dois artigos de lei nem numa imagem de princesa sorridente.
Ela é feita de gritos sufocados, batalhas vencidas com o corpo, e ausências que ainda doem.

Por isso, neste 13 de maio, eu não falo de redenção.
Falo de revisão, reparação e reconhecimento.
Falo de um país que ainda não terminou de se libertar.
Falo de um povo que não esquece — e que continua a escrever a sua história com sangue, suor e palavras.

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
500 caracteres restantes.
Comentar
PedroHá 1 mês Feira de SantanaÓtima reflexão! Coesa e Certeira!
Missuca Há 1 mês Terra Nova Parabéns Joelson.
Mostrar mais comentários
Joelson Gama
Sobre o blog/coluna
Jornalista Profissional desde 2019, persigo a comunicação e o jornalismo desde 2010, com a inauguração do Terra Nova Online (que virou Terra Nova News). Antes disso, ainda no Ensino Médio, idealizou e dirigiu o impresso Gazeta Estudantil. Sempre de olho no que acontece, principalmente, em Terra Nova e cidades do entorno. Tem passagens pelas equipes de jornalismo de rádios baianas como: Sociedade da Bahia, ATarde FM, Piatã FM e Terra Nova FM, entre outras passagens por veículos impressos e digitais, além de assessorias de imprensa e serviço público municipal, estadual e privado.
Ver notícias
Salvador, BA
24°
Tempo nublado

Mín. 24° Máx. 25°

24° Sensação
4.58km/h Vento
76% Umidade
100% (11.37mm) Chance de chuva
05h54 Nascer do sol
05h16 Pôr do sol
Sáb 25° 23°
Dom 25° 23°
Seg 25° 24°
Ter 26° 24°
Qua 26° 25°
Atualizado às 06h06
Publicidade
Anúncio
Publicidade
Anúncio
Economia
Dólar
R$ 5,50 +0,00%
Euro
R$ 6,33 +0,01%
Peso Argentino
R$ 0,00 +0,00%
Bitcoin
R$ 618,337,35 +1,51%
Ibovespa
138,716,64 pts -0.09%
Publicidade
Anúncio
Publicidade
Anúncio
Publicidade
Anúncio
Publicidade
Anúncio