Ontem, no domingo, a casa ficou cheia.
Vieram filhos, netos, sobrinhos, os sorrisos de sempre e alguns que pareciam guardados só pra essa data. Ganhei flores, almoço especial, um abraço demorado. Tiraram uma foto minha no sofá, com um bolo no colo e a legenda pronta: — “Mãe, o maior amor do mundo.” Eu sorri, claro. Sorriso de mãe é compromisso com a beleza do instante, mesmo que a alma esteja cansada.
No domingo, eu me senti vista. Importante. Necessária. Como se o tempo tivesse parado só pra me lembrar que eu sou amor de alguém. E fui, por algumas horas, a rainha da casa que eu mesma construí tijolo por tijolo — com afeto, esforço e um pouco de silêncio também.
Mas segunda chegou.
E com ela, o tanque cheio de roupa, o resto de comida do almoço para organizar, a casa de novo em silêncio. Os filhos voltaram pra rotina, a vida voltou pro prumo, e o que ficou foi o vaso com as flores que já começaram a inclinar as pétalas. Voltou o dia comum. Voltei a ser a mulher de antes: aquela que cuida quando ninguém olha, que resolve antes que alguém perceba, que chora baixinho no corredor da cozinha pra não preocupar ninguém.
E aí eu pensei: se o amor que me dedicam é real, por que ele só aparece em um domingo de maio?
Porque ser mãe é pra sempre — e às vezes, parece que só lembram da gente quando o calendário avisa.
Não estou cobrando, não. Nem quero presente todo dia. Queria só um bom dia fora de hora. Um "tô passando aí", um "quer conversar?", um "precisa de alguma coisa?". Às vezes, o que falta mesmo é companhia pra tomar o café que preparei pra mim sozinha.Ser mãe nunca foi trabalho fácil. Mas é um ofício que a gente aceita com o corpo inteiro, mesmo quando o mundo pesa e o afeto escasseia. Só que o que a gente mais deseja — e nunca diz — é ser cuidada também. Não porque estamos fracas. Mas porque também somos gente. E gente precisa ser amada com frequência, não com agendamento.
A verdade, meu filho, minha filha, é que o que machuca não é o esquecimento. É a brevidade da lembrança. É saber que o almoço foi lindo, mas o dia seguinte será de novo solitário. É ver que o carinho de domingo dura menos que o perfume das flores que me deram.
Segunda-feira, 12 de maio de 2025
Com carinho,
a mãe que não quer ser lembrada só no segundo domingo de maio.
•••
Talvez essa crônica não fale só sobre mim ou sobre a minha mãe.
Talvez fale da sua mãe, da sua avó ou tia que te criou com amor materno.
Daquela que não diz, mas sente, dolorosamente.
Daquela que não cobra, mas espera, pacientemente.
Daquela que sorri no domingo e se cala na segunda... e nos dias seguintes.
Por isso escrevi.
Pra lembrar que amor não pode ser sazonal.
Que carinho não pode caber só no Dia das Mães.
E que mãe não quer só presente.
Quer presença!
Quer olhar nos olhos e saber que ainda é prioridade.
Quer um afeto sem hora marcada.
Como dizem, dia de mãe é todo dia!
Então... Feliz Dia das Mães.
A todas.
Especialmente àquelas que continuam sendo amor — mesmo quando não lembram delas.
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