Tem lugar que nunca muda.
E tem gente que nunca sai da gente, mesmo quando a gente sai de casa, da rua, da cidade. Pra mim, esse lugar sempre foi o colo da minha mãe. E essa gente, essa mulher que nunca parou — que nunca pôde parar — sempre foi ela.
Hoje, 11 de maio de 2025, Domingo de Dia das Mães, escrevo com os olhos marejados, o coração apertado de lembrança e a alma cheia de gratidão. Não só por ela, que me deu o nome, o corpo, a coragem e o caminho. Mas por todas as mães de Terra Nova, que, mesmo sem saber, me ensinaram o que é ser mundo para alguém.
Minha mãe nunca foi de discurso. Mas suas mãos — firmes, calejadas, carinhosas — sempre souberam o que fazer, mesmo quando a vida não dava manual. Lembro dela tirando o bolo do forno, como quem salvava o dia com açúcar. Lembro dela lavando roupa no tanque, e o barulho da água era quase oração. Lembro dela me acordando cedo, dizendo: — “Vai, menino. O mundo não espera.”
E foi assim que aprendi a trabalhar. Aprendi que a dignidade começa na ponta dos dedos de uma mulher que não descansa. E que a escrita — essa que hoje me salva, me sustenta, me revela — começou ali, quando eu observava o jeito dela dobrar os dias como se dobrasse lençol limpo.
Se hoje sou jornalista, escritor, contador de histórias, é porque tive em casa uma mulher que narrava a vida com o corpo inteiro. Ela me mostrou que cada pequeno gesto tem potência. Que cuidar também é escrever — só que com afeto em vez de caneta. Ela me ensinou a observar antes de falar. A servir o café antes de pedir ajuda. A ouvir com o peito aberto e a falar com o coração de joelhos.
E foi com ela que entendi que a palavra "amor" só faz sentido se for verbo. E que "mãe" é a palavra mais completa da língua — porque dentro dela cabe o mundo.
Hoje, eu também escrevo para todas as mães terranovenses. Vocês que, entre o fogão e a feira, entre o batom e o botijão, entre a dor e o dever, seguem firmes, lindas, humanas. Vocês que enchem a praça, o salão, a fila da farmácia, a feira… mas também enchem a vida da gente de sentido.
Vocês são o chão da nossa memória. São as primeiras leitoras dos nossos acertos. E também as que recolhem com doçura cada erro nosso espalhado pelo caminho.
Não é exagero: Terra Nova é feita de mulheres que criam o mundo todos os dias.
Que fazem do pouco, muito.
Do improviso, milagre.
Da dor, força.
E do amor... permanência.
Eu sei que há leitores meus espalhados pela Bahia, pelo Brasil e até fora. E muitos de vocês, hoje, vão olhar uma foto, lembrar de uma voz, sentir um cheiro de infância que volta sem aviso.
A minha palavra hoje também é pra você.
Se sua mãe está viva, que sorte. Abrace. Diga. Olhe. Escute.
Se ela já se foi, que saudade bonita — e que herança mais profunda ela deixou.
Porque mãe não vai embora. Mãe fica na forma como a gente cuida do mundo.
Mesmo nos dias mais difíceis, lembro que ela continuava.
Com lenço na cabeça, vassoura na mão e fé nos olhos.
Ela nunca parou.
E por isso, eu sigo.
Eu escrevo.
Eu honro.
Se hoje tenho voz, é porque um dia, no silêncio da cozinha, uma mulher me ensinou a escutar. Se hoje tenho coragem, é porque cresci vendo ela enfrentar o mundo sem nunca deixar de ser ternura.
Mãe, obrigada.
Mãe, perdão pelas vezes em que fui silêncio onde você merecia aplauso.
Mãe, ainda escrevo esperando que você leia — mesmo que não goste de ler.
E se você, leitor, teve ou tem uma mãe que te ensinou a viver com afeto e coragem, esse texto também é pra você.
Feliz Dia das Mães a todas as mães.
Às minhas amigas e às mães da minha cidade.
Às mães do mundo.
E à minha — que nunca parou.
Com afeto,
Joelson Gama
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