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Terra Nova: Um mês depois, a verdade ainda importa

E nós seguimos aqui

17/04/2025 às 12h23 Atualizada em 18/04/2025 às 03h48
Por: Joelson Gama | DRT.: 0006017/BA
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Agência HDP/Redes Sociais
Agência HDP/Redes Sociais

Hoje, 17 de abril de 2025, completa-se um mês desde aquele que, para nós terranovenses, ficará marcado para sempre como o dia da “chacina dos seis”. Um mês desde que a paz habitual da nossa cidade foi interrompida por uma tragédia que nos feriu fundo — e que, além da dor da perda, nos obrigou a enfrentar uma segunda violência: a do julgamento apressado, das manchetes irresponsáveis e das narrativas distorcidas que pairaram sobre Terra Nova como uma nuvem carregada.

Nossa cidade, com pouco mais de 10 mil habitantes, foi arrastada para os holofotes por portais de notícias e perfis nas redes sociais que, sem qualquer cuidado com a verdade, propagaram inverdades sobre nosso cotidiano. Pintaram um cenário de terror que não reconhecemos. Nos transformaram, de um dia para o outro, em sinônimo de insegurança, como se a história que vivemos aqui há mais de seis décadas pudesse ser apagada por uma única manchete.

Mas nós seguimos aqui.

Seguimos vivendo, cuidando uns dos outros, levantando os olhos e reafirmando o que somos: uma cidade acolhedora, pacífica, onde a vida ainda corre no compasso da vizinhança, do café fresco na calçada, da conversa atravessada no portão. Terra Nova é, sim, um lugar para viver bem — e viver em paz.

Falo com a propriedade de quem nasceu aqui há 35 anos e se criou entre essas ladeiras e praças. Falo como jornalista, sim, mas antes disso, como filho desta terra. Vivi a Terra Nova do barulho da feira, do São João que faz a cidade inteira pulsar em festa, das tardes em que o silêncio da rua é quebrado apenas pelas vozes das crianças. Terra Nova é mais do que um CEP. É sentimento. É pertencimento.

Infelizmente, as manchetes que circularam após o episódio de 17 de março de 2025 pouco se preocuparam em entender essa essência. Se preocuparam menos ainda em checar os fatos. E, em vez de informar, contribuíram para espalhar medo e reforçar estigmas.

Reafirmo aqui o que disse desde o início: este texto não é uma crítica às forças de segurança, nem um panfleto de defesa ou acusação. É um chamado à responsabilidade. É um pedido de cuidado — especialmente a meus colegas jornalistas e comunicadores.

Quando tratamos de vidas humanas, não podemos nos permitir trabalhar com a pressa e a superficialidade. Não podemos esquecer que as palavras que publicamos têm consequências. Quando uma mãe vê o nome do filho estampado como “criminoso” antes mesmo que os fatos sejam apurados, ela sangra duas vezes: pela morte e pelo julgamento.

E é justamente por isso que, um mês depois, sigo me solidarizando com cada família que chorou uma ausência naquele 17 de março. Me solidarizo com os pais, com as mães, com os irmãos, familiares e amigos. Me solidarizo com a comunidade, que foi silenciada e invisibilizada no meio de tanto ruído.

Mas também levanto a cabeça e reafirmo: Terra Nova não se resume a um episódio. A violência que tentaram colar à nossa imagem não é quem somos. Continuamos sendo a cidade das festas juninas inesquecíveis, das pessoas que fazem do ‘aniversário de boneca’ um grande evento, da generosidade que não cabe em manchetes.

Aos que ainda não conhecem nosso lugar, venham com o coração aberto. Terra Nova tem cheiro de pão quente na padaria da esquina, tem som de música saindo da janela, tem abraço demorado e olho no olho. Aqui, a gente acolhe, a gente cuida, a gente vive junto.

E, por fim, aos colegas de profissão, deixo meu apelo mais uma vez: que a busca pela verdade esteja sempre acima da sede pelo clique. O jornalismo não pode se afastar do seu propósito. A responsabilidade de contar uma história exige mais do que pressa — exige escuta, empatia e compromisso. Porque a palavra tem peso, e nenhuma cidade, nenhuma família, nenhum ser humano merece ser julgado com base em versões rasas.

Um mês depois, seguimos de pé. E a verdade, aqui, ainda importa.

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TiagoHá 4 semanas Salvador Excelente texto! Terra Nova é uma cidade encantadora, rica em história e cultura. Quem ainda não teve a oportunidade de curtir o São João de lá, está perdendo uma experiência maravilhosa.
Michele Há 4 semanas Terra Nova Bahia ????????????????????????????
Liliane Há 4 semanas Teodoro Sampaio Parabéns pelo seu lindo texto e belo trabalho meu irmão!
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Terra Nova - BA
Sobre o município
O município de Terra Nova, na Bahia, foi fundado em 1961, a partir do antigo arraial de Terra Nova, que se situava na Fazenda Terra Nova, à margem direita do rio Pojuca. O arraial pertencia à freguesia da Vila do Rio Fundo e, em 1889, o Barão de Bom Jardim começou a construir uma usina de açúcar, que foi inaugurada em 1902. A partir daí, o povoado começou a desenvolver-se e, em 1954, passou a ser distrito com o nome de Terra Boa. Em 1961, o nome foi alterado para Terra Nova e o município foi cri
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